A Efemeridade da Vida no Consultório Veterinário: Uma Reflexão sobre a Perda.

A Efemeridade da Vida no Consultório Veterinário: Uma Reflexão sobre a Perda.
A vida é um ciclo constante de nascimentos, crescimentos e despedidas. No universo da medicina veterinária, esse ciclo se desenrola de maneira mais acelerada e, por vezes, implacável. O médico veterinário, dedicado ao cuidado dos animais, enfrenta a dura realidade da efemeridade da vida de seus pacientes, um desafio que transcende as fronteiras do conhecimento técnico e atinge as dimensões mais profundas do ser humano.
Ao escolher a profissão veterinária, o profissional se compromete não apenas com a promoção da saúde animal, mas também com a inevitável tarefa de lidar com a morte. Animais têm uma vida mais curta, e os veterinários testemunham inúmeras vezes a rápida passagem de seus pacientes pelo ciclo vital. Cada despedida, entretanto, não é apenas um momento de luto pela perda, mas também uma reflexão sobre a própria existência e o significado da vida.
A filosofia, nesse contexto, oferece uma lente poderosa para examinar as questões inerentes à morte e à transitoriedade da vida. Desde os tempos antigos, filósofos têm contemplado a finitude humana, e as lições dessas reflexões podem ser aplicadas à experiência do médico veterinário. A filosofia estoica, por exemplo, ensina sobre a aceitação do inevitável e a importância de viver o momento presente, princípios que podem oferecer consolo diante das perdas frequentes.
A espiritualidade também desempenha um papel crucial na jornada do veterinário. Muitos encontram conforto nas crenças de que há um propósito maior para todas as coisas, mesmo aquelas que parecem inexplicáveis e dolorosas. A conexão profunda que se estabelece entre o veterinário e seu paciente transcende o físico, abrindo espaço para uma compreensão mais ampla da existência e da interconexão de todas as formas de vida.
No entanto, mesmo com a sabedoria da filosofia e a consolação da espiritualidade, a perda de um paciente continua a ser uma experiência desafiadora e emocionalmente abaladora. Cada animal deixa uma marca única na vida do veterinário, e a sensação de impotência diante da morte pode ser avassaladora. A aceitação da vulnerabilidade inerente à profissão é um caminho árduo, mas também é um componente essencial do crescimento pessoal e profissional.
Em última análise, a dificuldade em perder um paciente como médico veterinário é uma jornada que abraça a dualidade da vida e da morte. É uma chamada para a compaixão, a empatia e a resiliência, enquanto se enfrenta a efemeridade da existência. No coração desse desafio, emerge a oportunidade de honrar a memória de cada paciente, celebrando não apenas suas vidas breves, mas a riqueza das conexões compartilhadas ao longo do caminho.
Marcio Mota.

Marcio Mota

Médico veterinário, docente convidado FGV, palestrante, consultor, Presidente ANMV, Presidente da Comissão de Clínicos de pequenos animais CRMV SP e liderança do associativismo (AMVGABC, ABHV e FEREVESP).