A medicina que cura os animais e protege os humanos.
No curso da história, as aplicabilidades da medicina veterinária evoluíram
concomitantemente com as demais tecnologias e profissões. Na prática, atuação do
profissional veterinário se destaca além dos cuidados com os animais. Na saúde
voltada as pessoas, dois direcionamentos norteiam sua atuação técnica: Uma na
Medicina Veterinária Preventiva que está ligada à saúde humana por aplicar
conhecimentos para prevenir as enfermidades animais e suas interseções (zoonoses);
e outra, voltada para a medicina populacional, a saúde pública; que foi primeiramente
desenvolvida por meio da higiene de alimentos e ampliou sua atuação para diversas
frentes.
Na saúde pública, o médico veterinário consolidou sua atuação na Vigilância
em Saúde, seja ela no âmbito sanitário, ambiental ou epidemiológico. É por meio da
especialidade em epidemiologia, que o profissional veterinário desenvolve sua habilidade
técnica para encarregar-se, da análise de dados dos Sistemas de Informações de Saúde –
SIS -, permitindo inferir e elaborar padrões, associações e relações, para subsidiar
gestores de todas as esferas de governo, na tomada de decisões no controle ou
erradicação dos mais diversos agravos de interesse da saúde pública.
No entanto, apesar de firmado o papel do médico veterinário como parte das
estratégias a garantir a saúde coletiva, no que diz respeito ao controle e erradicação
de doenças transmissíveis, emergentes e reemergentes; e do seu reconhecido valor
junto aos profissionais da saúde, acadêmicos, gestores, agentes e atores de políticas
públicas; para o público em geral, essa percepção ainda é diminuta, e muitos ainda só
reconhecem o médico veterinário como um provedor da saúde animal.
Além das atividades habituais, os domínios específicos da Saúde Pública
Veterinária que podem trazer contribuições significativas para a saúde pública são:
a) investigação, epidemiologia e controle de doenças comunicáveis não
zoonóticas;
b) aspectos sociais, comportamentais e mentais da relação entre seres
humanos e animais;
c) epidemiologia e prevenção de doenças não infecciosas (incluindo a
promoção de estilos de vida saudáveis);
d) análises e avaliações de serviços e programas de saúde pública;
e) atividades que envolvem o contexto social, especialmente aquelas em que
há participação em programas de educação em saúde (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2002).
Recentemente, vivenciamos a pandemia SARS-CoV-3 ou Covid19, onde toda uma
força tarefa da saúde coletiva mundial foi mobilizada. A princípio, mais uma doença
zoonótica (que por origem já coloca o médico veterinário em destaque) se espalhou pelo
mundo. Uma doença emergente, um novo problema de saúde, um novo agente
infeccioso não circulante entre os seres humanos. Muito embora todo foco midiático
tenha sido voltado para a assistência aos doentes, diversas frentes de trabalho eram
estrategicamente organizadas e desenvolvida com base nas análises epidemiológicas
realizadas. Todas elas com a importante participação dos epidemiologistas, em
especial, os veterinários.
Mas na saúde coletiva não nos preparamos somente para o inusitado!
Algumas doenças infecciosas conhecidas e geralmente controladas podem
mudar seu padrão epidemiológico em curto espaço de tempo, por diversos motivos.
São as conhecidas doenças reemergentes. A consequência geralmente é um
aumento repentino de casos além do padrão esperado. Um bom exemplo foi da
tuberculose pós-HIV (a nível mundial) e as epidemias (a nível nacional) de dengue
provocadas pelo subtipo DEN 4 a partir de 2010, quando este foi isolado e
identificado pela vigilância laboratorial de Roraima (LACEN-RR), da qual
veterinários faziam parte da equipe técnica de vigilância em saúde, e permitiram ao
país organizar ações preventivas para minimizar os impactos nos demais estados
brasileiros.
(https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2010/09/13/interna-brasil,212769/virus-da-dengue-tipo-4-em-
circulacao-em-roraima-e-originario-da-venezuela.shtml)
Por fim, destacamos ser imprescindível preparar com atenção a formação
veterinária para que nossos futuros colegas acompanhem as necessidades atuais da
sociedade e se antecipem para as oportunidades e as exigências de mercado. O
profissional formado em Medicina Veterinária deve deter sólidos fundamentos nos
conteúdos pertinentes à Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública, além da
habilidade para trabalhar de forma interdisciplinar. Deve, se optar por atuar, na
medicina preventiva ou pública, considerar a especialização como aporte a sua
ascensão a este nicho de trabalho e assim estar preparado para auxiliar as
populações humanas a enfrentarem seus principais desafios.
Rodrigo Brasil.