A palavra de ordem na pecuária é sanidade.
A pecuária brasileira desempenha um papel cada vez mais importante para o agronegócio nacional. Em 2023, a demanda interna pela proteína bovina deve crescer 11,6%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), passando de 26 para 29 quilos por pessoa/ano.
No mercado exterior, a proteína produzida no Brasil vem ganhando cada vez mais espaço, resultado de décadas de investimento em tecnologia, que elevou não só a produtividade como também a qualidade do produto nacional, fazendo com que ele se tornasse competitivo e chegasse ao mercado de mais de 150 países.
Mesmo diante de um cenário desafiador, em que o preço da arroba do boi está abaixo do esperado, os resultados são promissores e geram grande expectativa nos pecuaristas, que precisam estar atentos a todos os detalhes do processo de produção para continuarem tendo bons números, porta aberta com outros países, e atendendo um consumidor brasileiro cada vez mais exigente e sofisticado.
O bom desempenho da pecuária está atrelado a fatores como um bom planejamento nutricional, genético e de sanidade. Esses três pilares, quando bem gerenciados na fazenda, permitem ao gado alcançar seu máximo potencial genético, zootécnico e comercial, possibilitando ao pecuarista um bom rendimento econômico.
O investimento em sanidade e na prevenção de doenças evita perdas ao pecuarista. Além disso, podem reduzir o custo para engordar o boi. Cito como exemplo o prejuízo causado pelos parasitas na pecuária nacional, que chega a cerca de US$ 14 bilhões anuais. Os parasitas têm impacto negativo sobre a produção e o desempenho dos bovinos, afetando apetite e conversão alimentar, e levando a diminuição do ganho de peso e da produção de leite.
A vermifugação adequada aumenta o desempenho e o rendimento do rebanho em sistema de confinamento, como demonstra estudo realizado pela Equipe de Extensão e Pesquisa em Parasitologia Animal (EEPA), credenciada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A pesquisa, realizada com 240 novilhos, atestou que a utilização de anti-helmínticos adequados, na entrada do confinamento, aumenta o ganho de peso diário dos animais, resultando em melhor desempenho do rebanho.
Na esfera reprodutiva, a estação de monta, em que se deve maximizar os resultados e a taxa de prenhez do rebanho, também pode ser impactada pelos parasitas. Animais tratados com moxidectina 1% no início do protocolo da IATF apresentam maiores taxas de ciclicidade e prenhez, conforme demonstra estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG).
E o pré-desmame também é um desafio para os bezerros, exigindo atenção maior, já que o sistema imunológico desses animais não é totalmente funcional e por isso podem ter uma alta carga parasitária afetando seu desempenho. Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) mostrou que os bezerros tratados com moxidectina 10%, entre os 4 e 5 meses de idade desmamaram com 9,4 kg a mais que o grupo não tratado, mostrando que a verminose nessa categoria animal pode causar um impacto econômico significativo quando não controlada de forma adequada.
Prevenir é a forma mais eficaz de mitigar esse prejuízo. Podemos avançar muito ainda no cuidado com os animais – além do tratamento de verminoses, um calendário vacinal adequado, o uso responsável de antimicrobianos, um programa de nutrição bem planejado e o manejo correto da pastagem. Esses processos funcionam como um sistema integrado para a melhoria contínua do sistema produtivo, assegurando ao pecuarista melhores rendimentos, aos animais maior bem-estar, e ao mercado consumidor o fornecimento de alimentos seguros e sustentáveis.
O Brasil tem grande potencial para continuar atendendo a crescente demanda de carne – bom clima, área, infraestrutura, mão de obra – e muito potencial para desenvolvimento e aperfeiçoamento. Por essa conjuntura e pelo nosso protagonismo, é natural que os olhos do mundo estejam voltados para cá e para todos os aspectos que possam influenciar positiva e negativamente o papel do Brasil de provedor de alimentos.
Acredito que estamos no caminho certo. Todo o setor está mobilizado e entende que é preciso continuar a investir em cuidados básicos para obter resultados cada vez melhores. O futuro da pecuária está sendo construído agora, e quem se preparar de forma correta terá mais possibilidades de obter bons resultados em um mercado cada vez maior e mais competitivo.
Por José Paulo Peron*
*Diretor da Unidade de Ruminantes e Equinos da Zoetis.
Fonte: Zoetis BRASIL.