A uruçu (Melipona scutellaris) é uma espécie de abelha sem ferrão que habita o litoral do Nordeste brasileiro, cujo bioma (Mata Atlântica) é predominantemente quente e úmido. Suas colônias naturais foram historicamente superexploradas para a produção de mel pelos moradores locais e, consequentemente, a uruçu está presente na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção (em perigo e localmente vulnerável).
Dada a sua importância como produtora de mel e na polinização da flora nativa, bem como de cultivos agrícolas, a uruçu foi tema da palestra da professora Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, do Instituto de Biociências da USP e membro do Comitê Científico da A.B.E.L.H.A., neste segundo dia da Apimondia (26/08).
O estudo apresentado pela professora Vera avaliou o impacto das mudanças climáticas na perda de hábitat natural da abelha-uruçu em dois períodos (2021-2040 e 2041-2060), sob influência de um dos cenários de clima publicados no relatório do IPCC de 2021 (cenário SSP5-8.5). Alguns dos critérios para a escolha desse cenário foram: aumento esperado da pobreza global após a pandemia de Covid-19, escassez de energia, o que pode incentivar a queima de combustíveis fósseis, aumento das queimadas e intensificação da agricultura, entre outros.
Os resultados do estudo sugerem que, atualmente, a uruçu possui uma área de distribuição de 230 mil km2. No entanto, nos próximos 20 anos (2021-2040), é esperada uma perda de 100 mil km2 (ou 41%) da área atual. Da mesma forma, em 40 anos (2021-2060), espera-se que essa perda seja maior, de 130 mil km2 (ou 55,8% de sua distribuição atual). A Bahia será o estado com a maior perda de área.
O estudo conclui que a perda de quase metade da área de distribuição natural da uruçu pode comprometer o seu uso sustentável para a produção de mel e polinização de espécies vegetais nativas e cultivos regionais.
Fonte: A.B.E.L.H.A.