Que tal descobrir como funciona o treinamento de soltura responsável das jacutingas nascidas no Parque das Aves? Descubra nesse artigo!
“Você está levando um membro da nossa família. Por favor, cuide com carinho.”
A caixa verde, contém uma jacutinga (Aburria jacutinga), uma linda ave ameaçada de extinção da Mata Atlântica, que viaja do Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR), para São Francisco Xavier (SP).
Seu Francisco, tratador do Parque das Aves, é considerado o avô das jacutingas nascidas no local. Afinal, ele costuma preparar o recinto e os ninhos para reprodução.
“Os netinhos partindo para procurar a natureza. É uma recompensa para tudo o que a gente faz”, resume o tratador, emocionado.
Então, a equipe do Parque das Aves se reuniu para assistir a partida das jacutingas para o aeroporto de Guarulhos. Ali, Paloma Bosso, diretora técnica da instituição, recebeu as aves de carro.
O destino? São Francisco Xavier, onde as aves ficarão aos cuidados do Projeto Jacutinga, uma iniciativa da SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil).
Essa história, que já se repetiu muitas vezes no Parque das Aves, é constante em nossa rotina de trabalho, por meio de parcerias com outras instituições comprometidas em conservar aves da Mata Atlântica.

Jacutingas, jardineiras da Mata Atlântica
Infelizmente, a jacutinga está praticamente extinta em algumas regiões da Mata Atlântica, devido à degradação de seu ambiente natural e a exploração indiscriminada do palmeira-juçara, cujo fruto é um alimento essencial para a ave.
Além disso, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), essa espécie foi uma das mais caçadas no bioma, com relatos de abates de até 50.000 aves em uma única temporada. Por isso, reproduzir a espécie sob cuidados humanos é essencial.
Porém, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, soltar na natureza uma ave que está acostumada a ser cuidada por humanos não é um processo simples.
De fato, o Projeto Jacutinga, que reintroduz e monitora as jacutingas em áreas onde elas costumavam existir, é prova de não basta simplesmente abrir uma gaiola ou caixa de transporte.
Na sede do projeto, em São Francisco Xavier, há um viveiro de reabilitação. Lá, os animais aprendem a sobreviver por conta própria na mata, para que a soltura ocorra de forma planejada e responsável, maximizando as chances de sucesso.
Assim, também é possível reconstruir as relações ecológicas que existiam no local. Afinal, uma jacutinga pode dispersar mais de 40 espécies de plantas da Mata Atlântica!
Então, salvar essa incrível jardineira da floresta ajuda a proteger muitas plantas nativas (e animais que se alimentam delas).
Por isso, o trabalho do Parque das Aves junto à SAVE não se resume a reproduzir e enviar jacutingas para a floresta. Na verdade, em última instância, se trata de resgatar o papel ecológico de uma das principais “jardineiras” da Mata Atlântica, protegendo a biodiversidade.
Além disso, as atividades do Projeto Jacutinga ajudam a educar as comunidades locais sobre a importância da espécie, trabalhando com as escolas locais e elaborando material educativo.

Soltura gradual e planejada
No passado, as jacutingas viviam em abundância na Mata Atlântica do sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, além de cidades na Argentina e no Paraguai.
No entanto, com tantas ameaças, não demorou para que a população estimada se resumisse a apenas 2 mil indivíduos, com tendência ao declínio.
Assim, surgiu o Projeto Jacutinga, que começou seu trabalho em 2014 , criando um programa de reintrodução e monitoramento de jacutingas, com base em pesquisa científica e educação ambiental.
Atualmente, a reintrodução dessas aves acontece na Serra da Mantiqueira, em São Francisco Xavier, em Caraguatatuba e, também, no Rio de Janeiro.
O Projeto Jacutinga desenvolveu e testou todo o protocolo de preparação pré-soltura e de monitoramento pós-soltura.
Esse tipo de soltura gradual, planejada para que os animais nascidos sob cuidados humanos tenham a oportunidade de aprender a “se virar sozinhas” na natureza, recebe o nome de soltura branda (ou, em inglês, “soft release”).
Nascidas para viver no mato
Então, em 2016, o Parque das Aves se tornou parceiro da iniciativa, reproduzindo e enviando para soltura aves que nasceram na instituição e tenham perfil adequado para sobrevivência na natureza.
Assim, o Parque das Aves seleciona casais saudáveis, com boa capacidade de reprodução e uma genética variada, para fazer parte do programa.
Já em 2017, foram 6 jacutingas que, durante 8 meses, passaram por esse processo de ambientação, dentro de um recinto em meio à mata nativa.
Então, no ano seguinte, a primeira soltura realizada foi a da jacutinga Mimi. Depois dela, vieram Tingo e Mac, Iguaçu e Jurema, Atlântica e Zangão, Neve e Atchim.
Recentemente, cinco animais foram enviados em 2021, e outros três em 2022. E é assim que pretendemos seguir: cuidando de jacutingas e, portanto, plantando árvores nativas na Mata Atlântica.
Clique aqui para ver um vídeo que divulgamos em dia 5 de julho, data em que as últimas jacutingas viajaram para São Paulo!

Mimi, o primeiro caso de sucesso
Mimi foi uma das primeiras jacutingas nascidas no Parque das Aves a serem reintroduzidas na Mata Atlântica. Criada pelos pais na instituição, ela cresceu em um recinto em meio à mata, onde aprendeu a voar.
Devido ao seu comportamento natural, ela apresentava uma grande chance de sobrevivência na natureza. Por isso, foi escolhida para participar do treinamento criado pela equipe do Projeto Jacutinga, que durou vários meses.
Inicialmente, as jacutingas passam por procedimentos de avaliação clínica, exames, pesagem e anilhamento (que é a inserção de anilhas, pequenos anéis de identificação, nas patas das aves).
Então, começa o período de reabilitação, que inclui treinamentos para identificar predadores, realizados com animais falsos (como felinos de pelúcia e gaviões de mentirinha) e cães.



Voltando para casa
Por fim, a equipe iniciou o processo de soltura, abrindo o recinto para ver se ela explorava o lado de fora. Inicialmente, Mimi preferiu permanecer lá dentro. Essa é uma reação positiva, pois demonstra cautela com mudanças.
Mas, no dia seguinte, os técnicos fizeram uma nova tentativa. Dessa vez, já mais preparada, Mimi optou por deixar o recinto e se juntou às outras jacutingas já reintroduzidas no local. E segue vivendo por conta própria na floresta!
De olho nas novas moradoras da floresta
Um grande exemplo de sucesso em uma reintrodução, Mimi continua a emitir sinais por meio de um transmissor via rádio acoplado em seu dorso – assim como diversas outras jacutingas nascidas no Parque das Aves, que hoje se aventuram pela Mata Atlântica.

Além disso, em todas imagens capturadas durante o monitoramento, ela parece saudável e apresenta muita desenvoltura na floresta.
Como esperado, Mimi apareceu se alimentando dos coquinhos do palmito-juçara e espalhando as sementes ao voar para lá e para cá. Afinal, ela é uma jardineira nata!

A história de Mimi ilustra como a reintrodução é uma área de trabalho que exige muita pesquisa da espécie, principalmente seu comportamento e seu habitat.
Além disso, vale lembrar que, após o treinamento, aves que não estão aptas para soltura responsável são enviadas de volta ao Parque das Aves. Afinal, nunca deixaríamos nossos amigos desamparados, certo?
Conheça as jacutingas de perto
Em em sua próxima visita a Foz do Iguaçu, que tal conhecer as jacutingas pessoalmente no Parque das Aves? Estamos em frente às Cataratas do Iguaçu! Veja mais detalhes sobre a visita aqui.

Fonte: Parque das Aves.