Nos últimos anos é possível observar um crescimento progressivo no mercado pet e aumento na competitividade entre as indústrias de alimentos destinados a animais de companhia. 

De acordo com a ABINPET 2023, a população de cães e gatos apresentou um crescimento acumulado entre os anos de 2020 e 2021 de 3,9% e 5,9% respectivamente e o faturamento do setor teve um crescimento significativo de 33% de 2020 para 2021 e um pouco menor (18,3%) no ano de 2022. Tal crescimento e competitividade atrelado a consumidores mais exigentes por práticas verdadeiramente ESG impulsionam um aumento expressivo do setor de alimentos para pet, ocasionando uma maior busca por ingredientes alternativos mais sustentáveis para substituir ingredientes habitualmente utilizados na alimentação humana, reduzindo os riscos socioambientais, competitividade e também os custos de produção. Além disso, espera-se que esses novos ingredientes sejam acessíveis, perenes, com menor pegada de carbono, com características que permitam bom processo de extrusão e com oferta no mercado.

Um ingrediente comumente utilizado de forma eficiente por bovinos de corte e leite, ovinos e caprinos, equinos, aves e suínos é o DDG (Dried Distillers Grains – ou conhecido como Grãos Secos de Destilaria). Nos últimos anos, este ingrediente tem despertado o interesse dos nutricionistas e formuladores de alimentos para animais de companhia como uma excelente alternativa para a fabricação de alimentos para cães e gatos.

Classificado como um coproduto da extração do milho, obtido a partir da fermentação do amido para obtenção do etanol, o DDG possui baixo custo de produção e possui alta disponibilidade de macronutrientes e micronutrientes, favorecendo sua inclusão na alimentação.

O uso de milho para produção de etanol tornou-se bastante atrativo para os produtores. Comparado com a cana-de-açúcar, o milho apresenta alto rendimento, no qual uma tonelada de cana-de-açúcar pode produzir entre 70 e 90 litros de etanol, enquanto a mesma tonelada de milho pode chegar a produzir de 390 a 420 litros. Vale a pena ressaltar que, para cada tonelada de milho processada são produzidos, em média, 420 litros de etanol, 330 kg de DDG e 12 litros de óleo, variando entre as usinas.

Além disso, outra grande vantagem na utilização do milho para a produção de etanol é o seu aproveitamento integral, ou seja, o fracionamento do milho separando o amido para fermentação e obtenção do etanol e as demais partes que seriam descartadas no meio ambiente, são aproveitadas de forma sustentável e utilizadas como produtos de alto valor nutricional na nutrição animal como o óleo de milho e o DDG.

Tendências

Segundo matéria publicada no Valor Econômico em outubro de 2022, o etanol de milho tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil, e a tendência é um crescimento vertiginoso.  Na quinta edição da Conferência NovaCana, os dados mostram que a safra da cana recuou 12,7%, devido a mudanças climáticas, enquanto a safra do milho triplicou a produtividade avançando 29%.  A principal fonte das usinas tem sido o grão de milho da segunda safra.

Segundo a UDOP (União Nacional de Bioenergia), alguns investidores já vêm utilizando o conceito de usinas “flex”, utilizando o milho na entre safra da cana-de-açúcar, como alternativa de equilibrar hectares cultivados e consequente ociosidade do negócio. Como já é sabido, o etanol é um combustível sustentável de fonte renovável que emite 70% menos CO2 em comparação com a gasolina, então, aumento de produção de etanol por fontes vegetais cumpre com as metas para redução de pegada de carbono da Agenda 2030.

As projeções das safras de 2023/2024 mostram que o número de usinas de etanol de milho subirá para 19 unidades em MT, de acordo com previsões do Sedec, o que significa que haverá grande disponibilidade desse ingrediente.

Segundo a revista Forbes em março de 2023, nos últimos seis anos, os investimentos do Brasil no setor do etanol de milho foram da ordem de R$ 15 bilhões e outros R$ 15 bilhões devem ser investidos até 2030.

Atenção

“O milho e seus componentes de extração são utilizados por muito tempo na alimentação pet, mas ainda encontramos consumidores com a percepção que alimentos produzidos com milho são alergênicos, contribuindo com uma imagem negativa deste cereal. Estudos importantes já demonstraram que a principal causa de alergia em pets se dá devido a peptídeos e glicoproteínas, e os grãos causam menos do que 1,5% dos casos de alergia.” Alvarenga, 2021.

Composição

Em termos de composição nutricional, o DDG apresenta alto teor de proteínas e fibras.  Dependendo do método de extração pode chegar a possuir acima de 40% PB, alta digestibilidade e palatabilidade em inclusões até 10%.  Possui ainda uma ótima qualidade nutricional na energia digestível e metabolizável, podendo ter valores iguais ou maiores que a do milho. Pode conter na sua composição química até 7,2 % fibra bruta, sendo a maior parte desta insolúvel. A composição e qualidade do DDG serão variáveis dependentes da qualidade do milho (estocagem e controle de micotoxinas), e das condições do processamento do etanol, como por exemplo as diferenças no tempo e temperatura de secagem. Além disso, o DDG possui alto teor de fibra em detergente neutro (FDN) em relação à fibra em detergente ácido (FDA), caracterizando-se como um coproduto com alta concentração de hemicelulose.

Em uma revisão de literatura publicada por Alvarenga, 2021, correlaciona o valor nutricional do milho assim como de seus coprodutos de extração, demonstrando que o DDG tem coeficiente de digestibilidade aparente para proteína acima de 80%, seu uso adiciona sustentabilidade a cadeia de produção de milho e pode ser seguramente utilizado como substitutos do farelo soja e glúten de milho.

Palatabilidade

Estudo de Silva, 2015 demonstrou que cães preferiram dieta experimental com 18% de DDG comparado com a dieta controle a base de milho.

Estudos internos da Special Dog Company demonstraram que dependendo da origem do DDG e da forma de extração, podem também existir importantes diferenças no aspecto palatabilidade, que podem chegar a uma diferença de 46%.

Saúde Intestinal

Em um trabalho apresentado no CBNA de KAELLE, 2022 que trabalhou com inclusões crescentes de DDG: 0, 7, 14 e 21%. Foi avaliado a modulação da microbiota e produtos de fermentação intestinal em cães e demonstrado que a fração fibrosa deste ingrediente apresentou propriedades de modulação da microbiota intestinal em cães, com tendências mais positivas para inclusão de 21%.

Para o recente lançamento do produto Special Dog Gold Life,  a utilização do DDG se fez possível em termos de segurança alimentar, e possibilitou digestibilidade acima de 85%.

Em suma, o DDG é um ingrediente disponível, sustentável, palatável e prebiótico. Como uma empresa preocupada com os impactos socioambientais, a Special Dog Company tem investido e buscado entender o ciclo de vida de seus produtos como meio para minimizar os impactos dos mesmos através de pesquisas e novos desenvolvimentos de produtos e ingredientes.

co-autora: Katiani Silva Venturini.