Quanto ao hipismo clássico, teve início no Brasil a partir da década de 1870, fim da Guerra da Tríplice Aliança, conflito bélico que envolveu grandes contingentes humanos e a cavalaria, vencida pelo Brasil e aliados. Os entreveros e batalhas durante seis anos (1864 -1870) entre brasileiros, argentinos, paraguaios e uruguaios e o emprego de tropas montadas em renhidos confrontos nos campos de batalha no sul do continente sul-americano, fez surgir no Brasil à necessidade do melhoramento do adestramento da tropa, da equitação e do hipismo para maior eficiência do combate.
Praticado, primeiramente pelos militares nos corpos de tropa e quartéis, o hipismo clássico e de combate tiveram três escolas hípicas europeias distintas: a inglesa, a alemãs e a francesa, assim cronologicamente instaladas: a inglesa veio pela influência do imperador D. Pedro II que trouxe da Inglaterra o Cap de Cavalaria Luiz Jácome de Abreu e Souza com a missão de criar as Coudelarias do Exército e difundir a doutrina equestre de Baucher utilizada na Europa naquela época. Sua ação se fez sentir em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, fomentando a equitação nos quartéis e clubes civis. A segunda, alemã, por incentivo do Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, então presidente da república, que tendo realizado cursos militares na Alemanha, enviou àquele pais, oficiais brasileiros da arma de cavalaria para aprender e disseminar no Exército, a doutrina equestre alemã. A terceira, através da Missão Militar Francesa – MMF, Gen Maurice Gamelin, que como chefe da missão de organizar e modernizar o Exército Brasileiro (1920), planejou a criação da Escola de Equitação do Exército- EsEqEx, para formar oficiais instrutores de cavalaria capazes de transmitir, nos quarteis e corpos de tropa, regras, uniformes e materiais empregados na equitação. (portalsaofrancisco.com.br). Foto de capa.
Quanto ao hipismo rural, esporte genuinamente brasileiro que nasceu em São Paulo, região de Avaré, Mococa e Franca, na década de 1970, caracterizava-se por disputas entre os peões utilizando o cavalo e obstáculos naturais e habilidades dos cavaleiros em atravessá-los no menor espaço de tempo.
O esporte, que a princípio era brincadeira dos fins de semana entre os peões nas fazendas, festas de bairros, exposições, em pequenas cidades através das gincanas, provas de cadeira, de argola, de botina, nas vaquejadas, etc. virou um esporte oficial no ano de 1979, graças à iniciativa do esportista Pedro Victor Delamare, que junto com os empresários e fazendeiros Ricardo Lenz César, Ricardo Gonçalves, Gilberto e Olímpio Rossetti, começaram promover competições mais organizadas, iniciando em Campos de Jordão-SP, a prova Cavalo Completo Rural. Delamare conseguiu então organizar o primeiro torneio com patrocínio. Em 1980, os criadores de cavalos árabes realizaram o primeiro torneio funcional da raça. Em 1982, a competição foi aberta para todas as raças. Em novembro, os participantes das competições fundaram uma entidade para agregar o esporte, batizado com o nome de “ Hipismo Rural” pelo jornalista Chuck Woodward, diretor da revista “Hippus” à época. Assim nasceu o Hipismo Rural e sua Associação Brasileira de Hipismo Rural–ABHIR. (Da Costa, Lamartine (org). Atlas do Esporte no Brasil . Rio de Janeiro: CONFEF, 2006).
Praticado em todo o Brasil, por homens e mulheres, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso, as provas são divididas nas seguintes categorias: Escola, Mini-Mirim, Estreante, Aspirante, Avançados, Cavalos Novos (ABHIR, 2022). Sendo um esporte novo com menos de meio século oficial de existência, (1982 -2023), o objetivo dessa resenha hípica é divulgar o hipismo rural nas suas modalidades esportivas que mais crescem e se praticam no Brasil, ou sejam: Laço Comprido, Baliza e Tambor, respectivamente.
2. Hipismo rural: Laço comprido, Baliza e Tambor
2.1 Laço comprido
a) Componentes. Para realização oficial da prova é necessário: local e pista aprovadas pela ABHIR, bretes de contenção de bovinos, cavalo adestrado, cavaleiro, bois de preferência com chifres, laços de couro com 18 a 20 m, chancha de barro ou areia de no mínimo 100 m de comprimento, juízes e árbitros julgadores, entre as principais exigências regulamentares.
b) Descrição da Prova. Dependendo da modalidade, Team roping (laço em dupla) ou Tie down roping (laço individual) o cavaleiro (os) deve cumprir com as exigências técnicas das provas com um mínimo de erro e tempo possível. Como a prova é muito dinâmica em sua realização, exige do cavaleiro (s) grande habilidade, rapidez e inteligência.
c) Execução da (s) prova (s). Modalidade Tie down roping. Nessa prova, o cavaleiro deve laçar o bezerro ou boi em movimento, apear do cavalo e conter o animal em três patas, no menor espaço de tempo. Toda a prova é cronometrada sob a atenção rigorosa dos juízes. A prova é validada quando o juiz de pista levanta uma bandeirola branca. No Team Roping, a prova é realizada por uma dupla de cavaleiros com função previamente definida: um chamado cabeceiro que tem a tarefa de laçar o novilho pela cabeça, enquanto o outro, peseiro, pelos pés traseiros. A dupla tem o direito da fazer 3 laçadas, duas o cabeceiro, e uma o peseiro ou vice-versa no tempo de 1 minuto. Na sequencia das ações, o cabeceiro tem a prioridade da laçada, enquanto o peseiro é o último. A prova termina quando o novilho contido fica entre os cavalos da dupla e o juiz de pista valida a prova e sinaliza com uma bandeirola acenada para cima.
d) Penalidades. Os competidores nas modalidades de cavaleiros individual ou dupla podem ser penalizados quando infringirem as regras da prova no que concerne a : execução da prova (técnica), duração da prova (tempo permitido) e distância percorrida na raia, além da “Desclassificação“. As penas são acréscimos em tempo (segundos) dada aos competidores na execução e término da prova. (ABHIR) (Fig. 03)
2.1.1 – Campeões mundiais e brasileiros das provas, ano de 2022
2.1.1.1 – Tie Down Roping.
• Campeão Mundial – Texano Caleb Smidt tetracampeão (2015, 2018,2021 e 2022)
• Campeão Brasileiro – Kaique Pacheco, Itatiba-SP, campeão touro.
2.1.1 2 – Time Roping.
• Campeão Brasileiro – Campeão Mundial – Junior Nogueira (o Testinha) e seu parceiro Kaleb Driggers
2.2 Baliza
Prova do hipismo rural em que o cavaleiro ou amazonas e sua montada devem apresentar: perícia, velocidade, habilidades equestres e adestramento aliada harmonia, precisão e resistência para vencer os vários obstáculos – balizas – dispostas na pista. A “Prova das 6 balizas” é uma competição de precisão ao cronômetro, na qual o vencedor será o que fizer o percurso em menor tempo sem cometer erros. Nesta prova, seis balizas são colocadas em linha reta, perpendicularmente à linha de partida/chegada. O concorrente poderá iniciar a prova passando à direita ou à esquerda da linha da baliza e obedecer ao diagrama correspondente à entrada escolhida. (ABHIR).
a) Execução. A prova de grande precisão ao cronômetro, consiste no conjunto (cavaleiro/cavalo) contornar em movimento ziguezague (slalon) 6 balizas, dispostas em linha reta e distanciadas uma da outra com intervalo de 6.50m, no menor tempo possível. A prova começa quando o cavaleiro corre até o final do conjunto de balizas, vira na última e retorna até a primeira, contornando-a, e voltando novamente fazendo os mesmos movimentos até a última baliza. Neste ponto, ele completa o giro e retorna, em linha reta, paralela à fila de baliza, em direção à chegada. (hipocampo.com.br)
b) Penalidades. O conjunto (cavaleiro/cavalo) é penalizado quando: derruba a baliza, excede o tempo permitido para a realização da prova, não cumpre o percurso exigido no diagrama de execução, cai do cavalo, etc, entre outras faltas, a critério dos juízes de julgamento. (Fig 02)
2.3 Três tambores
Prova hípica que exige perfeita sincronia entre o cavalo e o cavaleiro ou amazona para contornar três tambores, dispostos de forma triangular a uma distância de 30 m ou do outro. O primeiro tambor deve ser contornado em giro de 360º no sentido da esquerda para a direita, e os dois últimos da mesma forma, porém no sentido da direita para a esquerda. Prova de origem americana, estado do Texas, realizada pela primeira vez naquele país no ano de 1948, tinha como objetivo principal avaliar o conjunto cavalo/cavaleiro no desempenho de lidar com o gado nas tarefas diárias das fazendas. No Brasil, a modalidade foi introduzida pela Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Quarto de Milha – ABQM, na década de 2 000, que em 2003 criou a Associação Nacional de Três Tambores-ANTT. Uma das modalidades mais democráticas do hipismo rural aceita para a sua prática e competição homens, mulheres e crianças, desde que devidamente habilitados.
a) Execução. A prova cronometrada com cronômetro ou célula fotoelétrica começa na linha de partida da arena com o cavalo em movimento em direção ao primeiro tambor, contornando-o em 360º no sentido da esquerda para a direita e os dois últimos da mesma forma, mas no sentido da direita para a esquerda, voltando o cavaleiro para o ponto de partida e encerrando a prova. Vence a prova o cavaleiro ou amazona que completar a prova sem faltas e no menor tempo.
b) Penalidades. Sofre penalidade em tempo ou “ DESCLASSIFICAÇÃO “ o cavaleiro ou amazona que cometer as seguintes faltas: ultrapassar o tempo permitido para a realização da prova; sair dos limites da arena; derrubar os tambores; cair do cavalo; usar chicote ou esporas, etc, entre as faltas mais graves.
• Campeão Brasileiro masculino – Vinicius Fraga Morais
• Campeã Brasileira feminina – Renata Luck Souza
( NBHA, abr 2023 )
3. Conclusão
Desde que foi criada oficialmente no Brasil, Rio Claro-SP, em julho de 1982, a Associação Brasileira de Hipismo Rural – ABHIR tem por objetivo: fortalecer, divulgar, popularizar e regulamentar o Hipismo Rural e suas várias modalidades esportivas como: cross country, laço comprido, baliza, tambor, rédeas, adestramento, CCE, etc. às mais disputadas.
Atualmente, O Hipismo Rural cresce e se estende em todo o território brasileiro orientado pela ABHIR que promove campeonatos nacional e regional de suas modalidades durante todo ano, Calendário Anual de eventos e provas, sendo o mais importante, o Campeonato Brasileiro de Hipismo Rural.
* Edino Camoleze Cel med vet mil. MS Tecnologia de Alimentos. Zoogeografia da América do Sul. Acadêmico Titular da ABRAMVET. E.Mail edino0644@gmail.com. Resende-RJ.
Por Edino Camoleze
Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura.