Medicina Veterinária – na Rota do Tráfico de Animais Silvestres no Brasil.
O tráfico de animais silvestres se tornou a terceira maior atividade ilícita e lucrativa do
mundo, seguida do tráfico de drogas e de armas, de acordo com as Nações Unidas (ONU). O
Brasil é ponto de referência dessa atividade criminosa, em razão da sua imensa
biodiversidade, tornando – se um dos principais alvos do tráfico de animais, contribuindo com
10% dos 20 bilhões de dólares que essa atividade movimenta aproximadamente por ano.
É difícil saber o tamanho do tráfico no Brasil sem ter a compilação e análise de dados
oficiais, pois não há padronização nos registros. Os estados registram de um jeito, órgãos
federais seguem com outra metodologia, e assim também as polícias ambientais. De acordo
com IBAMA e ICMBio, os animais no Brasil são retirados principalmente dos Estados da
Bahia, Piauí, Pernambuco, Maranhão, Paraíba e Ceará, e os principais centros consumidores
são os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Importante destacar que 90% dos animais capturados no Brasil são comercializados no
próprio território nacional. Porém quando falamos do tráfico internacional, destacamos as
rotas que abastecem um intercâmbio entre os países de fronteira com Brasil, sejam eles:
Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e mais especificamente: Venezuela, Suriname e Guiana na
fronteira com Roraima.
Diversas frentes de combate a esse crime podem e devem ser implementadas, sejam
leis mais severas, reforço da fiscalização, investimentos em tecnologia etc. Porém duas delas
são estratégicas: Educação ambiental, principalmente em escolas, e investimentos nas
comunidades que exploram essas atividades como meio de sustento.
Uma nova geração comprometida com novos valores e responsabilidades,
sensibilizada positivamente para uma sustentabilidade maior de vida no planeta, sem dúvida
causará impactos fortíssimos nesse ciclo criminoso. Contudo, os resultados esperados são de
longo prazo. Investir imediatamente na origem se faz necessário, afim de estancar ou
minimizar esse processo ao máximo. Falamos então de comunidades que precisam de
alternativas econômicas de subsistência, que por ausência de políticas socias diretamente
voltadas para elas, mantem os “mafiosos dos bichos”.
“A vantagem para os traficantes vem no pouco que se é gasto com a captura desses
animais. Quando não roubam os animais da natureza, pagam alguém para fazer. Os
contratados sempre são pessoas que estão em zonas rurais, empobrecidas, sem acesso a
direitos básicos. Os pagamentos costumam ser pífios se comparados ao valor de revenda dos
bichos no mercado ilegal. Tartarugas são capturadas na região Norte, e repassadas para os
traficantes por 1 a 2 reais, que as revendem por 200 a 300 reais em São Paulo''
(https://www.uol.com.br › ecoa › reportagens-especiais).
A relevância da presença de médico veterinário em todas as frentes para o
enfrentamento desse problema é indiscutível. Seja na fiscalização, na educação, no
policiamento, na extensão rural e até mesmo na política – nas casas legislativas de todas
esferas de governança. Ainda somos muito tímidos em exercermos protagonismo nesta causa.
Foto Divulgação PMBV – Mantenedor de Fauna Silvestre – Parque
Ecológico Bosque dos Papagaios – Prefeitura de Boa Vista – Roraima
“Estamos vivendo hoje um momento de
pandemia. E possivelmente o vírus começou em
um comércio de animais silvestres na China. Mas
as pessoas falam disso como se fosse
exclusividade, uma peculiaridade da cultura
chinesa. Só que a gente mora em um dos países
que mais trafica bichos no mundo, que tem
grandes pontos de comércio ilegal de animais,
feiras, mercados… E sem qualquer controle
sanitário”
Roched Seba, fundador do Instituto Vida Livre.
Rodrigo Brasil.