Suplementação mineral deficiente causa transtornos reprodutivos em vacas.

Suplementação mineral deficiente causa transtornos reprodutivos em vacas.

A suplementação mineral em vacas tem como prioridade melhorar o desempenho reprodutivo, que consiste na diminuição do intervalo entre partos e aumento na taxa de concepção. Além dos efeitos na fertilidade e gestação, a suplementação aumenta a produção de leite e melhora sua qualidade, reduzindo a contagem de células somáticas. Muitos problemas reprodutivos são causados pelo consumo insuficiente de energia e de proteína. Porém, muitas pastagens, como as cultivadas no Brasil, são também deficientes em Fósforo (P), Zinco (Zn), Cobre (Cu), Cobalto (Co), Iodo (I), Sódio (Na) e Selênio (Se), o que ocasiona redução no consumo e aproveitamento do alimento; assim, os transtornos reprodutivos são causados indiretamente, o que dificulta a identificação dos sinais específicos da deficiência. Geralmente a deficiência mineral é de vários elementos ao mesmo tempo, acompanhada por problemas infecciosos, especialmente nas carências dos microelementos, que podem aumentar a susceptibilidade a infecções.

Grande parte dos minerais essenciais é necessária à reprodução, desempenhando funções nos sistemas enzimáticos, na formação da estrutura de células, de órgãos e de tecidos, e na manutenção do equilíbrio ácido-básico, da pressão osmótica e da permeabilidade de membranas. Todavia, esses nutrientes têm papéis e exigências específicas nos tecidos reprodutivos, sendo que essas exigências e funções podem modificar, dependendo da fase do ciclo reprodutivo ou da gestação. O bom funcionamento do tecido reprodutivo pode ser limitado por deficiência nutricional em períodos críticos, como em períodos de transição, picos de lactação, parto e puberdade.

Cálcio (Ca) – Mecanismos dependentes de Ca estão envolvidos na síntese de esteróides nas glândulas adrenais e nos ovários, podendo influenciar na esteroidogênese, na liberação ou na utilização de colesterol e na conversão da progesterona. Os processos ativados por receptores que conduzem à secreção de gonadotrofinas são altamente dependentes de Ca. Além disso, a liberação de hormônio luteinizante depende da estimulação do hormônio GnRH, que envolve um mecanismo controlado pelo Ca.

O início da lactação eleva de forma abrupta as exigências de Ca, uma vaca produzindo 10 kg de colostro eliminará 23 g de Ca numa única ordenha, o que representa nove vezes mais do que a quantidade de Ca circulante no organismo. A suplementação no período de transição é um dos principais gargalos, pois significa evitar transtornos no pós-parto como retenção de placenta e/ou hipocalcemia. A hipocalcemia é determinante do desempenho reprodutivo nos rebanhos, quando é subclínica está relacionada com desordens metabólicas como a mastite, metrite, prolapso uterino, cetose e retenção de placenta, pois o Ca é um dos principais minerais responsáveis pela contração muscular e consequentemente a atonia uterina e eliminação da placenta.

Fósforo (P) – A redução na ingestão de alimento é o efeito mais precoce da deficiência de P e isso pode levar a deficiências de outros nutrientes, tais como proteína e energia. Uma consequência grave da deficiência de P é a ingestão de materiais que normalmente não participam da dieta (alotrofagia ou apetite depravado), tais como ossos, pedras e madeira, predispondo os animais ao botulismo enzoótico. A deficiência de P é associada a desordens reprodutivas em bovinos, mas a infertilidade ocorre depois de outros sinais clínicos, como redução das taxas de concepção, estros irregulares, diminuição da atividade ovariana, aumento na incidência de cistos foliculares e depressão geral da fertilidade. Matrizes de alta produção que recebem dietas com alto teor de grãos, que por sua vez são ricos em P, podem consumir menores quantidades de P por meio de suplementações minerais. Porém, é importante considerar que o P presente nos grãos está ligado ao fitato e o seu aproveitamento é limitado à ação das fitases no rúmen.

Zinco (Zn) – A deficiência de Zn pode afetar concentrações hormonais em gestantes, esse mineral está relacionado a abortos, teratogênese (má formação fetal), gestação prolongada, mumificação fetal, distocia, baixo peso ao nascer, aumento de hemorragia ao parto e redução na sobrevivência da cria. O Zn é imprescindível para o crescimento e desenvolvimento fetal, desta forma a deficiência afeta vários mecanismos, incluindo a redução da proliferação celular, da síntese de proteína e das taxas de polimerização da tubulina (componente do citoesqueleto), o aumento das taxas de dano oxidativo e da morte celular programada (apoptose). O Zn modula a ação de fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs), cuja função vem sendo bem explorada na atualidade, principalmente no que diz respeito aos efeitos desses fatores em curvas de lactação e na reprodução em vacas de alta produção.

Cobre (Cu) – A deficiência de Cu é comum em ruminantes seja ela na forma primária ou ligada a outros minerais em excesso como o Zn. Se os níveis de Cu circulante na matriz são marginais, qualquer situação que reduza sua disponibilidade pode comprometer o feto e o embrião. O Cu se distribui por vários tecidos, principalmente na forma de complexos orgânicos, muitos deles metaloproteínas, que funcionam como enzimas. As funções do Cu estão primariamente ligadas à capacidade catabólica de enzimas, mas na deficiência dele também observa-se alterações no metabolismo de proteínas e de lipídios. Sua deficiência comumente causa morte embrionária, atividade ovariana sub-ótima, depressão do estro, taxa de concepção reduzida, retenção de placenta, distocia e problemas ósseos.

Selênio (Se) – Sua deficiência é associada com o aumento da expressão de genes envolvidos no estresse oxidativo, com um papel importante na manutenção da integridade celular, sendo por isso importante para evitar a morte do feto jovem. Atua como parte de uma enzima, protegendo as células luteais da peroxidação lipídica, auxiliando na manutenção da integridade do corpo lúteo. Sua carência pode causar infertilidade, aborto, nascimento de bezerros fracos ou mortos e retenção de placenta. Na dieta de bovinos a deficiência de Se pode ser corrigida através do uso de sais de minerais enriquecidos com Se e vitamina E. Outro efeito positivo do Se associado com a vitamina E é na redução da contagem de células somáticas, que pode ser explicado pelo papel específico de cada um na imunologia da glândula mamária. Não existem, até o momento, muitos trabalhos sobre a ocorrência de deficiência de Se nas pastagens do Brasil, mas há indicações de que este possa ser um problema importante para bovinos sob pastejo em regiões de solos mais pobres.

Manganês (Mn) – Este mineral está largamente distribuído em cada tecido e célula do organismo em concentrações muito baixas, sendo essencial para o desenvolvimento dos ossos e para o adequado funcionamento reprodutivo. Os mecanismos pelos quais o Mn influencia a reprodução são múltiplos e sua deficiência induz disfunções reprodutivas: queda na fertilidade, aumento do número de serviços por concepção, anestro e ciclos irregulares, baixo desenvolvimento folicular, atraso na ovulação, aumento da incidência de abortos, nascimento de terneiros fracos, engrossamento das articulações, menos contratibilidade do útero e catarros genitais purulentos.

Cobalto (Co) – é necessário para a síntese microbiana de vitamina B12. Sua deficiência está associada à anemia e fraqueza geral que podem indiretamente causar infertilidade. A manifestação mais comum de deficiência de Co é a redução da taxa de concepção. Além disso, pode apresentar retardo na involução uterina, estros silenciosos, ciclos estrais irregulares, atraso na puberdade, abortos, nascimento de bezerros fracos e ovários não funcionais. A suplementação em rebanhos deficientes aumenta a taxa de concepção e reduz a incidência de cios irregulares ou ovulações silenciosas.

A deficiência mineral afeta significativamente a função reprodutiva das vacas, entretanto a carência ou excesso de minerais nem sempre desenvolvem sinais clínicos, apresentando-se geralmente na forma silenciosa, ou seja, subclícina. Devemos então, considerar as diferentes regiões brasileiras, bem como a qualidade de cada pastagem e dietas formuladas. Para isso, são necessários levantamentos regionais através de análises bromatológicas para que se possa formular dietas que realmente atendam às exigências. Recomenda-se que os minerais sejam fornecidos associados a concentrados ou suplementos contidos na linha Minercamda por serem equilibrados e balanceados de acordo com as exigências nutricionais de cada categoria, evitando carência ou excesso de algum nutriente. Texto desenvolvido através da seguinte referênciaa: NUPPEC – Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão. Pelotas; jan 2010; Barcelos, V.B e Santos, J.P.C. (crédito foto: rehagro.com.br)

Vinicius Saraceni.

Zootecnista – CAMDA.

Fonte: CAMDA.

Dr. Fabio Stevanato

Médico Veterinário, Empresário e Escritor - CEO e Autor ImpulsoVet.