VAMOS FALAR DE ATIVIDADES E TERAPIAS ASSISTIDAS POR CAVALOS?

VAMOS FALAR DE ATIVIDADES E TERAPIAS ASSISTIDAS POR CAVALOS?

Fonte: Acervo pessoal – Projeto Equo UFRB – 2016 – Cruz das Almas/Bahia.
Com alegria começo a escrever como colunista da Impulsovet. Espero que este seja um canal de difusão de boas práticas de manejo e abordagem clínica de equinos, mas em especial, desejo que seja um espaço no qual poderemos trazer informações e refletir sobre a inserção dos cavalos nas atividades, nos processos educativos e terapêuticos com os seres humanos, as chamadas Intervenções Assistidas por Cavalos.
Durante o processo de domesticação e de convívio dos animais com os homens, as relações funcionais e emocionais entre o animal-humano e o animal-não humano tem se modificado.
Em relação aos equinos, vale lembrar a triste participação e morte de cerca de 8 milhões de cavalos durante a primeira guerra mundial. Uma função sem dúvida do passado, praticamente extinta. Gostaria de ver extinta também a necessidade de os homens guerrearem entre si (mas esta é uma outra conversa) … Voltando aos cavalos, e às suas funções, a tração e o transporte por cavalos também têm sido reduzidos gradativamente, principalmente nos grandes centros urbanos. O lazer, o esporte e a lida no campo atualmente são as principais funções destes animais junto aos homens.
Desde a época de Hipócrates (460 aC – 377 aC), já se identificavam os benefícios terapêuticos da convivência do homem com os cavalos. Em 1917, soldados sequelados na primeira guerra mundial se beneficiaram do contato com cavalos, muitos destes também feridos em combate. Em 1957 na Noruega, a fisioterapeuta Eilset Bodtker utilizou pela primeira vez a equitação como base terapêutica para crianças com deficiências, e no ano de 1967, os Estados Unidos já fundavam o primeiro centro de equitação para pessoas com necessidades especiais.
No Brasil, a maior parte das referências no assunto, registram como importante marco das intervenções assistidas por cavalos, o ano de 1989, quando na Granja do Torto, em Brasília foi fundada a ANDE/BRASIL (Associação Nacional de Equoterapia). De acordo com esta Associação, a palavra Equoterapia® é patenteada, e registrada no Instituto Nacional de Produtos Industriais do Ministério da Indústria e Comércio. Este método propõe uma abordagem interdisciplinar que insere o cavalo de forma ampla para promover a reabilitação e a inclusão de pessoas com deficiência. A equoterapia foi reconhecida no ano de 1998 pelo Conselho Federal de Medicina, em 2008 pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e no ano de 2019, passou a ser regulamentada pela Lei Federal 13.830. Assim, as primeiras ações visando a divulgação desta metodologia aconteceram ao final da década de 70, e foram protagonizadas por militares brasileiros, destacando-se o general Ary Carracho Horne e o coronel Lélio de Castro Cirillo, ambos da Cavalaria. Existem também registros, de que simultaneamente, a fisioterapeuta, psicóloga e instrutora de equitação, Gabriele Brigitte Walter, também pesquisava e trabalhava no sentido de implantar esta prática no Brasil.
Nos últimos anos, várias modalidades de intervenções assistidas por cavalos foram surgindo, e utilizam denominações diferenciadas como: equinoterapia, aprendizagem com cavalos, coaching assistido por cavalos, conexão com cavalos, constelação com cavalos, horsemanship terapêutico, equitação e volteio terapêuticos, dentre outros.

Assim como acontece, para a espécie equina, encontra-se na literatura e nos meios de divulgação nomenclaturas diferentes para variadas modalidades de intervenções assistidas por outras espécies, a exemplo da peteterapia (cães e gatos), cinoterapia (cães), e a delfinoterapia (golfinhos).
Buscando uma padronização de nomenclatura mundial, a Associação Internacional das Organizações de Interação Homem-Animal (IAHAIO), com sede em Seatle, WA, orienta a utilização do termo Intervenções Assistidas por Animais para denominar estas interações entre os homens e os animais. Existe ainda uma classificação que diferencia as terapias assistidas por animais (TAA) das atividades assistidas por animais (AAA).
Em linhas gerais, nas TAAs os objetivos terapêuticos são claros, bem definidos em função das necessidades da pessoa que será assistida. O plano terapêutico, assim como a condução da sessão junto ao animal, deve ser realizado por profissionais da área da saúde, e devidamente habilitados. Em relação as atividades assistidas por animais (AAAs) são aquelas que promovem uma interação entre a pessoa e os animais treinados para esta finalidade, modificando a rotina, trazendo entretenimento e recreação por exemplo em asilos, escolas, ou em um acampamento.
Minha primeira formação foi em Medicina Veterinária, e para além da clínica médica aprendida na academia, comecei a perceber os animais como verdadeiros canais de conexão com o HUMANO. Com o HUMANO do outro, e com o HUMANO em mim mesma. Passei a ter um olhar mais amplo para as relações interespécie e multiespécie, e também para a minha atuação como médica veterinária. A partir desta percepção realizei uma formação complementar em terapia transpessoal. Após um curso em Equoterapia, e com o apoio da Associação Baiana de Equoterapia, coordenei um projeto de extensão nesta área, entre os anos de 2014 e 2017. De lá pra cá, estudei outras metodologias, fiz outras formações, conheci realidades, experimentei na prática o potencial terapêutico dos cavalos. Desde 2017 ministro a disciplina Atividades e Terapias Assistidas por Equinos no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Nesta mesma Universidade coordeno um programa de extensão voltado para a prevenção do estresse e da ansiedade no ambiente universitário a partir de vivências assistidas por equinos (@casa_conscienciaufrb).
É deste lugar que quero trazer informações, falar dos desafios e das conquistas das intervenções assistidas por cavalos.
Até a próxima!

Saiba mais:
WALTER, G.B. Equoterapia – Fundamentos Científicos. 1ed. São Paulo: Atheneu. 2012. 227p.
PEREIRA, E. L.; BATAGLION, G. A.; MAZO, J. Z. Equoterapia, saúde e esporte: figurações da prática no Rio Grande do Sul, 1970-2000. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.27, n.3, jul.-set. 2020, p.879-897.
http://equoterapia.org.br/

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Ana Paula Peixoto.

Ana Paula Peixoto

Médica veterinária, pós graduada Resid. e Msc. UNESP, Dr. UFBA, equoterapeuta (ANDE Brasil), docente UFRB e atuante no Serviço Hospital Cavalo Social (HU UFRB) e na Casa da Consciência.