Você sabe como os cães aprendem? Tipos de reforços – parte 2 

Você sabe como os cães aprendem? Tipos de reforços – parte 2 

Para o adestramento positivo, o condicionamento operante – ensinar ao cão um
comportamento novo e desejado – é fundamental. No entanto, para que isso aconteça,
é necessário acrescentar o reforço, a recompensa: para cada acerto do cão, é dada a
ele uma resposta positiva que o mostra como é bom fazer aquele
comportamento/comando. O reforço pode ser variado: petisco, carinho, elogio,
massagem etc.
Com o uso de reforço positivo (ou seja, quando o cão acerta um
comportamento ou faz algo que desejamos, ele recebe uma recompensa), podemos
educar o cão de uma maneira diferente daquela que naturalmente ocorre. O reforço é
tudo aquilo que ajuda a aumentar um comportamento.
Há dois tipos de reforços:
 POSITIVO: quando inserimos algo bom após um comportamento
 NEGATIVO: quando retiramos algo ruim após um comportamento

Para ilustrar, reforço positivo é quando peço ao cão que sente e, ao fazer o
comando que pedi, reforço o cão com algum petisco. Já o reforço negativo auxilia em
situações diferentes. O reforço do cão é afastar-se de algo que para ele seja ruim. Um
exemplo: quando saio para passear com minha border collie, a Panda – que é
medrosa – e sei de alguma casa que tem cachorro no portão – já prevejo que ela ficará
agitada caso eu passe perto do portão e, por isso, eu evito essa casa.
Ao ler os sinais corporais dela (curvar-se, puxar a guia para se afastar da situação
e, caso eu prossiga, latir etc), eu já sei e entendo que será difícil para ela passar por
aquele lugar. E, em muitas ocasiões, foi preciso que eu voltasse no caminho, retirando
do passeio algo ruim após um comportamento demonstrado de incômodo ou
agitação.
Eu conheço esses sinais pela observação dos gestos e posturas corporais da
Panda; ela chegou em casa no início de 2020. Desde então, durante os passeios eu
observava as casas que poderiam ou tinham cães à frente e já os evitava,
atravessando a rua ou mudando a rota de forma a priorizar quarteirões que fossem
mais tranquilos. Isso aconteceu por quase um ano após sua chegada.
O que eu estava ensinando era a possibilidade dela mesma se afastar dos
incômodos, ou seja, cada vez que ela dava sinais de incômodos antes mesmo de
chegar em um determinado ponto crítico, eu parava e simplesmente esperava;
posicionava-se um pouco de lado, como se fosse voltar. Quando a Panda desistia de ir
adiante, eu a reforçava com alimento. Os reforços podem ser utilizados juntos ou
separados. Cabe ao adestrador/tutor reconhecer os momentos e como utilizar cada
um.
Aos poucos, eu ia me aproximando de uma casa ou portão até que conseguisse
passar com ela. Nesse instante, eu ia reforçando com alimento o tempo todo:
enquanto os cães latiam, por exemplo, eu dava uma recompensa até que
conseguíssemos nos distanciar do incômodo ou quando os latidos cessassem. Ainda
hoje há dificuldades; também cabe a mim, tutora, entender isso. Os limites também
são dela, isto é, tenho que compreender que há dificuldades que são difíceis para ela
superar e é preciso lidar com isso durante um passeio. A Panda não conseguiria
transitar tranquilamente por ruas com cães soltos ou muitos cachorros de portão, ou
mesmo um parque para cães: isso seria forçar uma situação desnecessária para ela.
Por ser uma cachorra medrosa, o comportamento natural da Panda é, diante de
um aversivo como esse, correr da ameaça ou reagir (lembra do condicionamento
clássico do artigo anterior? Temos aqui uma clara manifestação de algo orgânico,
natural, como a luta pela sobrevivência diante de uma ameaça). O reforço negativo –
retirar algo que seja incômodo a ela – é importante para que ela possa manter-se
calma e equilibrada durante os passeios.

Outros métodos diversos do positivo se utilizam de punição. Ela ajuda a diminuir
um comportamento, mas não elimina a resposta que desejamos mudar, apenas
diminui sua frequência. E há dois tipos:
 POSITIVA: quando inserimos algo ruim após um comportamento
 NEGATIVA: quando retiramos algo bom após um comportamento

Para exemplificar, a punição positiva pode ser uma bronca quando vemos nosso
cachorro fazendo xixi no lugar errado. Dessa forma, eu mostro a ele que não gostei do
que aconteceu. Ele pode até não errar mais, mas isso não quer dizer que ensinei onde
quero que ele faça, qual é o comportamento desejado por mim.
A punição positiva ainda é bastante utilizada e é base dos adestramentos
tradicional e misto – que utilizam reforços e punições. O foco em questão é diminuir o
erro do cão. Quando o cachorro puxa a guia e o tutor dá um tranco, ele mostra ao cão
o erro – puxar a guia. Todavia, essa prática não ensina o que o tutor deseja, que é
andar sem puxar. O acerto do cão precisa de reforço positivo para que aconteça e,
sem precisar puni-lo, o erro naturalmente se extingue.
Seja qual for a técnica, ela funciona para evitar um erro. No entanto, o
adestramento positivo é focado nos acertos do cão, ou seja, não importa muito o erro,
pois ao ensinar o que desejo, o erro se extingue naturalmente com uso do reforço
positivo.
E a punição negativa acontece, por exemplo, quando eu retiro do meu cachorro
um sapato que ele deseja destruir. Eu somente retirei algo que ele deseja, mas visto
que roer e destruir objetos é importante e natural no comportamento dos cães, todavia
não ensinei a ele o que ele pode roer, como um mordedor ou brinquedos
apropriados.
A punição negativa também é utilizada sempre no sentido de evitar um erro. Nesse
caso, não há um incômodo imposto ao cão, e sim uma frustração, por perder algo que
deseja. Novamente, o importante é utilizar o reforço positivo: ensinar ao cão que ele
deve roer os brinquedos e mordedores corretos. Além de acertar o objeto de
destruição, o cão ainda ganha em atividade mental ao exercitar a mordida. A punição
negativa é uma maneira de estabelecer regras e limites: mostro ao cão o que ele não
pode roer e, ao mesmo tempo, ensino o que pode ser destruído.
Obrigada pela leitura! Até o próximo artigo!

Bianca Souza.

Bianca Souza

Socióloga, Msc. Antropologia, Dra. História Social (PUC), Dra. em Ciências da Informação (CI / UNESP) e Pós Doc. CI (UFF) e Pós Doc. Museologia (USP), Profissional em adestramento, comportamento animal e relação humanos e Pets, escritora e editora de mídia digital sobre adestramento comportamentalista.