CANAL DA PIRACEMA.
Inaugurado em dezembro de 2002, o sistema de 10,3Km de extensão funciona como um corredor ecológico, permitindo que os peixes migradores superem os 120 metros de desnível médio da barragem de Itaipu e alcancem as áreas de reprodução na planície do Alto Rio Paraná e Parque Nacional de Ilha Grande.
Foto: Alexandre Marchetti – Itaipu Binacional.
Cerca de dois terços da extensão do Canal correspondem ao leito do antigo rio Bela Vista, um pequeno afluente do rio Paraná que deságua 4 km à jusante da barragem. Para conectá-lo ao reservatório foram construídos segmentos do tipo escadas, canais de concreto e quatro lagoas artificiais.
Para a construção do canal, a Itaipu se baseou em estudos prévios, como os conduzidos em parceria com a Universidade Estadual do Oeste (Unioeste) sobre a distribuição de ovos e larvas de peixes na região, e que evidenciaram a importância do reservatório como área de desova e desenvolvimento inicial de espécies nativas.
Os estudos de reprodução dos peixes, a propósito, são realizados de forma contínua. Desde 2004, por exemplo, a empresa realiza inventários para identificar as espécies de peixes presentes no Canal da Piracema, aproveitando para marcar os indivíduos migratórios que são capturados.
Graças a esses levantamentos, foram identificadas 186 espécies. Além daquelas que o utilizam como um corredor de biodiversidade, muitas outras (chamadas sedentárias) desenvolvem todo o seu ciclo de vida no canal e seu entorno, aproveitando a grande diversidade de ambientes encontrados ao longo do sistema. Muitas dessas espécies são raras, o que também indica que o Canal, sendo uma área protegida, oferece refúgio aos peixes nativos.
Para compreender melhor de que forma as espécies migratórias aproveitam o Canal como corredor de transposição, a Itaipu realiza, desde 2009, o monitoramento eletrônico da ictiofauna utilizando marcas do tipo PIT-Tag (Passive Integrated Transponder). Quatro conjuntos de antenas instaladas em seções ao longo do Canal operam por 24 horas, registrando data e hora de passagem dos peixes marcados.
As marcas, contidas em cápsulas de vidro que têm 23 mm de comprimento e tem formato alongado, são implantadas, com auxílio de uma pequena incisão, na cavidade abdominal dos peixes capturados no interior do Canal. Sempre que se aproximar de uma antena o peixe será registrado, já que a vida útil das marcas é ilimitada.
Mais de cinco mil peixes já foram marcados; graças a esta tecnologia, foi possível registrar, pela primeira vez, a passagem de peixes marcados nos elevadores para peixes da usina hidrelétrica Entidad Binacional Yacyretá, a próxima barragem à jusante da Itaipu, no rio Paraná. Um dourado e um pintado venceram os mais de 400 km entre as duas barragens, encontraram a entrada do Canal e o deixaram em direção ao reservatório, comprovando que mesmo peixes vindo de muito longe são capazes de transpor a barragem pelo Canal da Piracema.
As pesquisas mais recentes, realizadas em parceria com a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), pretendem empregar ferramentas de biologia molecular para verificar se os peixes das espécies pintado e dourado que estão transitando pelo Canal estão efetivamente reproduzindo no reservatório e nos trechos a montante, garantindo o fluxo gênico necessário para conservação das espécies.
E um convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) deve viabilizar pesquisas que têm por objetivo realizar inventários da ictiofauna a partir de células liberadas pela pele dos peixes para a água e o sedimento (o chamado DNA ambiental), evitando a necessidade de captura dos indivíduos. Desta forma, o monitoramento se tornará mais eficaz, econômico e não-invasivo.
Concebido como um autêntico elo da vida, o Canal da Piracema tem ainda outra finalidade: a promoção do esporte. Um pequeno segmento central, chamado Canal Itaipu, serve para a prática de esportes náuticos de competição, como canoagem slalom e rafting. Com 430 metros de extensão e desnível de 7,2 metros, o Canal de Itaipu está projetado para criar o regime turbulento ideal para estes esportes, contribuindo para a formação de atletas brasileiros de elite em suas modalidades.
Parceiros:
Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila); Universidade Estadual do Oeste (Unioeste); Funpar-UFPR; Confederação Brasileira de Canoagem (CBCA)
Resultados:
- 186 espécies de peixes registradas no Canal;
- Desenvolvimento de pesquisas inéditas sobre a influência dos esportes náuticos não motorizados sobre o comportamento migratório da ictiofauna;
- Mais de 6.800 peixes já receberam marcas eletrônicas do tipo PIT-tag. Graças a esta técnica, foi possível comprovar que ao menos três espécies – o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), o dourado (Salminus brasiliensis) e a piracanjuba (Brycon orbignyanus) são capazes de migrar desde a usina de Yacyretá, mais 400km à jusante de Itaipu, encontrar o canal, atravessar o sistema e chegar ao reservatório;
- Pesquisas realizadas até o momento indicam fluxo gênico efetivo através do Canal para duas das principais espécies alvo, o dourado e o pintado.
Fonte: Itaipu Binacional.