Esfriamento do galpão: um conceito antigo, mas essencial para o controle de Gumboro.

Esfriamento do galpão: um conceito antigo, mas essencial para o controle de Gumboro.

A função do sistema imune é proteger o corpo das infecções expulsando ou contendo os patógenos nas superfícies corporais, na pele, nas vísceras e nas mucosas, limpando ou processando as células danificadas e incitando a reparação tissular. Para realizar sua função, o sistema imunológico da ave utiliza diferentes linhagens celulares, moléculas de reconhecimento dos agentes, fatores solúveis de sinalização, direcionamento e modulação da resposta imune. Além disso, interage com outros sistemas, por exemplo, sistemas neuroendócrino e circulatório, e com as mucosas dos tratos digestório e respiratório.

A ocorrência das doenças imunossupressoras exerce efeito devastador nos resultados zootécnicos dos lotes de aves comerciais, pois, no moderno sistema de produção em que os animais são criados em grandes números, as aves dependem da integridade do sistema imune para se defender dos diversos agentes infecciosos presentes no ambiente.

Entre as diversas doenças infecciosas imunossupressoras das aves, como Marek, Reticuloendoteliose, Leucose Linfoide, Anemia Infecciosa das Galinhas, Reovirose e Criptosporidiose, talvez a Doença Infecciosa da Bursa (DIB), ou doença de Gumboro, seja a enfermidade que mais tenha recrutado os recursos técnicos e econômicos da indústria avícola para seu controle e sua prevenção. Isso decorre do fato de a DIB atingir diretamente um importante órgão linfoide primário, a bolsa de Fabricius e, portanto, comprometer significativamente a importante resposta imune mediada pelos linfócitos B por meio da produção de anticorpos.

As aves afetadas pelo vírus de Gumboro sofrem imunossupressão, respondem deficientemente às vacinações e desenvolvem maior suscetibilidade contra todo tipo de doença infecciosa. Isso gera prejuízos significativos para a indústria avícola, como perda em desempenho zootécnico, elevação da mortalidade e aumento de condenações no frigorífico. Portanto, onde a doença está presente, a vacinação é essencial. Além disso, a característica de alta capacidade de resistência do vírus de Gumboro e sua persistência no ambiente nos obriga a pensar em uma estratégia de imunização que leve em consideração não somente a proteção da ave, mas também a redução da pressão de infecção. Sendo assim, a função da vacinação, além de prevenir contra a doença, também deve ser reduzir a replicação do vírus de campo, diminuindo o desafio nos galpões de criação (Figura 1).

Fonte da figura 1: Arquivo pessoal – Eduardo Muniz

Mas qual é a melhor estratégia de controle?

Os anticorpos maternais exercem efeito neutralizante sobre a cepa vacinal, limitando a eficácia das vacinas convencionais. Além disso, o nível de imunidade passiva varia consideravelmente de uma ave para outra em um mesmo lote, dificultando a escolha do produto e do momento ideal para a imunização das aves.

Por um lado, essa imunidade materna desempenha importante papel de proteção nas primeiras semanas de vida, mas, por outro, dificulta a imunização ativa pelas vacinas. Com a intenção de induzir imunidade uniforme no lote, os programas tradicionais normalmente implicam na administração de múltiplas doses de vacinas. Por essa razão, a idade das aves e a seleção da cepa são pontos críticos para desenhar um efetivo programa de vacinação.

Em função das tecnologias disponíveis atualmente em equipamentos de vacinação in ovo, e mesmo em vacinas (complexo antígeno-anticorpo ou recombinantes) para o controle do Gumboro, cada vez mais as indústrias produtoras têm concentrado a vacinação no incubatório, deixando a prática em campo para casos em que é necessária a aplicação de dose de reforço.

Com a intenção de melhorar e tornar mais simples os programas de vacinação, a indústria farmacêutica, incluindo a Zoetis Indústria de Produtos Veterinários, desenvolveu as vacinas do tipo imunocomplexo, produzidas pela mixagem, em proporções bem definidas, de cepas do IBD vacinal com anticorpos específicos contra a doença de Gumboro, produzidos em aves SPF para uso no incubatório tanto por via in ovo quanto subcutânea.

Essas vacinas de imunocomplexo, além de apresentarem alta eficácia no controle do desafio de campo, também são capazes de se disseminar lateralmente de ave a ave. Isso ocorre, pois, cada ave vacinada replica a cepa vacinal e elimina o vírus na cama formando um “colchão imunitário”. Dessa forma, além de a vacina imunizar a ave, ela também é eliminada no ambiente e produz o efeito conhecido como “esfriamento do galpão” após a vacinação de sucessivos lotes (Figura 2).

Fonte da figura 2: Muniz EC, Diniz GS. Programas de Vacinação. In: Mendes AA, Nääs IA, Macari M. Produção de Frangos de Corte. II edição. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas 2014; p. 321-344.

 

Esse efeito somente é possível em vacinas com vírus vivo, pois o vírus de campo vai sendo substituído pela cepa vacinal e resultando no que se denomina “esfriamento do galpão”.

Dessa forma, o controle das doenças imunossupressoras, como a doença de Gumboro, envolve o uso inteligente da imunidade materna nas primeiras semanas de vida da ave e a eficaz e adequada imunização ativa para uma proteção completa do lote. A prevenção da doença de Gumboro e da doença de Marek é um passo importante para a preservação da integridade imune visando evitar imunossupressão, mortalidade e prejuízos econômicos em aves comerciais.

Fonte: Zoetis.

ImpulsoVet

Revista Eletrônica Médica Veterinária.