Setembro amarelo: precisamos falar sobre prevenção!

Setembro amarelo: precisamos falar sobre prevenção!

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a
prevenção do suicídio. No Brasil, foi criado em 2015 pelo CVV (Centro de
Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação
Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar à cor ao mês que marca o
Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro).
⠀⠀⠀⠀⠀Apesar de o assunto ser ainda considerado um tabu, é importante
conversamos sobre o suicídio e maneiras como preveni-lo. Muitas pensam que
esse ato é uma realidade distante e que afeta poucos indivíduos, mas,
infelizmente, os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram o
contrário.
⠀⠀⠀⠀⠀De acordo com a OMS, a cada 40 segundos, uma pessoa morre por
suicídio em algum lugar do nosso planeta. Isso significa que, em um ano, mais
de 800 mil pessoas perdem sua vida dessa forma.
Alguns países estão desenvolvendo estratégias e atividades, das quais
algumas já estão em prática e outras ainda em fase de desenvolvimento, todas
com o propósito de ajudar no trabalho de prevenção e posvenção do suicídio
(BARDON, 2021).
Segundo Bardon (2021), dentre algumas atividades de prevenção que
foram planejadas e implementadas pelos governos de diversos países, foram
citadas as seguintes: monitorar esse fenômeno, reduzir o acesso a meios de
suicídio, promover o assunto na mídia, reduzir o estigma, treinamentos, serviços
de intervenção e atividades de posvenção.
O Brasil faz parte desse grupo de países que se dispôs a olhar para esse
assunto com maior atenção, contudo, percebe-se que ainda há muito que ser
feito na prática, especialmente no campo da saúde pública e na ampliação da
conscientização e informação a respeito do suicídio.
Ao que concerne a medicina veterinária um fator contribuinte para as altas
taxas de doenças mentais é a exposição a estressores ocupacionais.
Veterinários que atuam na área clínica, especialmente no atendimento de
pequenos animais, estão expostos a altos níveis de estresse (TOMASI, 2019).
É uma rotina muito estressante e crítica na qual são observados uma
constante sobrecarga de trabalho e privação de sono, além de exaustão e medo
de cometer erros. A convivência com uma carga alta de estressores
ocupacionais que não são gerenciados podem estar associados a fatores de
risco para comportamento suicida, esgotamento, sofrimento psicológico e
depressão (NETT, 2015).
As pesquisas alertam para a questão de os médicos veterinários terem
fácil acesso a meios de suicídio. Segundo esses dados, o principal meio utilizado
por esses profissionais é o de envenenamento, via as substâncias utilizadas para
realização da eutanásia. Geralmente esses medicamentos são retirados da
farmácia do hospital/clínica veterinária e levados para casa (NETT, 2015).
Diante disso, destaca-se a necessidade de mudanças de gestão desses
estabelecimentos, os quais precisam reavaliar o fácil acesso a essas
medicações e, desenvolver novas estratégias para o maior controle disso.
Outro ponto importante a ser citado, a partir das experiências da minha
prática nessa área, nota-se a falta de conhecimento e uma conduta de evitação
diante desse tema. Apesar de, normalmente um veterinário conhecer um colega
que já tenha tentado ou realizado o suicídio, a maioria desses profissionais ainda
evitam falar sobre o assunto, segundo eles por medo de não saber a forma
correta de abordar.
A partir disso, tenho tentando aplicar práticas de atuação que levem
informações para esses estudantes ou profissionais da área, assim como,
proporcionar rodas de conversa e acolhimento, podendo ser uma ferramenta de
posvenção, Um dos meus objetivos como Psicóloga nessa área é o de inserir
disciplinas a respeito dessa temática na formação do médico veterinário, além
de levar esse assunto para todas as áreas em que esse profissional atua.
Ressalto que, embora o interesse acadêmico por estudos sobre a saúde
mental na medicina veterinária tenha aumentado em alguns países nos últimos
anos, pouco se vê na prática. As preocupações em relação a saúde mental na
área veterinária estão melhorando, mas ainda existem grandes dificuldades no
que se refere a estratégias para mudar essa realidade (MERCK, 2021).
Por fim, diante do que foi resumidamente explanado aqui, ressalta-se a
importância de que essas estratégias de prevenção e posvenção do suicídio
também sejam aplicadas na área da medicina veterinária brasileira.

Bianca Gresele.

Bianca Gresele

Psicóloga, docente, pós graduada, Msc. e Doutoranda em Psicologia Clinica, Presidente da Ekõa Vet e Speaker MSD.